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Mostrando postagens de 2011

Vermelho

E eu administrando o fato de estar ligeiramente alcoolizada, magoada, com um tesão filho da puta, tentando parecer sexy e descontraída e lendo seus sinais. Não sabia se olhava nos seus olhos para ver quando você piscava rápido, dando pinta que estava mentindo, ou se relaxava e curtia a quentura da sua mão quando me apertava a coxa. Você contando uma porrada de história que eu já sabia, porque já tinha inventado para você, e eu tentando não alucinar com o seu cheiro e balançando o pé forte para conseguir ficar sem cigarro. Ás vezes você ria de alguma coisa que eu falava e eu pensava que a gente não estava junto e não conseguia imaginar porque não estávamos dividindo um apartamento no Flamengo sem vaga na garagem e com uma janela bem grande. O chopp morno depois da conta paga e eu bebendo devagar para não ir embora. Você comigo depois de tanto tempo longe e eu ainda morria de vontade de te arrancar a roupa, de te morder todo e também de te meter a mão no meio da cara, de te imobilizar co

Final de verão tem dessas coisas

"Teve um dia que você foi meu. Eu sabia que era, você achava que era e eu tive muito medo disso. Nós dois sentados no tapete, com o sol do final de verão deitado do nosso lado e o silêncio das crianças brincando longe. Você me deu a mão, me encostou na parede e me abraçou. E disse que era meu, naquele dia pelo menos, eu sabia que era. As minhas pernas foram ficando fracas e eu sentei no chão para disfarçar. Você é meu, agora, mesmo com as outras moças por aí, com a minha falta de romantismo e com o meu band-aid descolando do calcanhar, você é meu. O que eu faço com você agora? Pensei que poderia deixá-lo dentro do meu armário, eu te tiraria de lá quando precisasse muito de uns dos seus versos fáceis que me faziam entender o mundo e seus tons de cinza. Depois imaginei que você não ia gostar de ficar preso no armário e não poder ver as coisas por aí, você estava tirando a minha calça com aquela sua delicadeza como se não quisesse amassar as roupas e eu estava pensando aonde ia enfia

Qualquer coisa de sorriso e língua

Ele tinha um sorriso de quilômetros que ia de um lado a outro do rosto. Eu beijaria cada cantinho daquele sorriso branco de gente, não branco de clareamento de laser, branco amarelo cor de dente de gente, lindo, dele. Eu beijaria o bigode, a barba, olhando perto, sem fechar os olhos e torcendo para ele não fechar também. Verde escuro e eu mais perto, quase encostando apertando o nariz com força contra. Verde escuro e a gente se apertando na Bolívia, em Cuba, tipo Colômbia ou em Corumbá. A latino-américa é nossa, meu bem, estar aqui é como estar lá também. Emaranhada nessas línguas que de longe parecem uma só, eu poderia te entender mais fácil se você não tivesse preguiça de se explicar e de colocar mais a língua também, sua, nossa. Ele está sentado do outro lado da sala, nós dois esperamos. Penso no nome dele, que nome eles têm? Jose, Pablo, Alejandro, Andres... Penso que poderíamos sair por aí de motocicleta, de ônibus, correndo. Ele poderia me levar para esquiar e eu ia adorar levá-

O cineasta

Acho que eu fui a primeira pessoa que ele viu assim que chegou. E ele foi um dos muitos caras que eu vi naquele dia, naquele lugar. Eu já estava quase indo embora até porque deviam ser umas três horas brincando e eu já tinha superado uma crise de pânico de maneira muito heróica. Pois é, não tomo remédio e chego nos lugares procurando onde tem vento, onde é perto da saída, onde tem um segurança grandalhão e delicado o suficiente para me carregar no colo caso eu tenha uma dessas crises que me tiram de mim por alguns segundos. Só que começou a tocar Chico Buarque, que eu chamo de Chico, e eu consegui ludibriar essa minha loucura porque remédio bom é homem e se for de olhos ardósia e lindo, mesmo que em verso, mesmo que em música faz muito bem, obrigada. E aí ele chegou, depois que metade do pessoal já tinha ido embora e até a minha vaidade porque o cabelo já estava bagunçado e foda-se, tá todo mundo bêbado mesmo. Na hora que eu vi pensei que ele era muito bonito para estar ali, sozinho

Jogo da Vida

...Eu não sei se o Lucas notou  a calcinha dela e em outra ocasião eu a faria sentar igual moça de família perto do meu homem, só que passava das três e ela era muito legal para levar pito meu.O Renato arrumou o tabuleiro, cada um escolheu um carrinho de uma cor. Viramos pinos coloridos e rodamos aquela roleta umas vinte vezes cada um. No meio de um assunto esquecíamos o que havíamos tirado e tínhamos que começar tudo de novo. Renato fazia o papel do banco mas acabava por distribuir mais dinheiro do que conquistávamos, exceto para Lucas que lutava com umas promissórias adquiridas logo na primeira rodada. Acabamos o jogo quando o dia fica mais frio, entre quatro e cinco da manhã. Eu ganhei, claro, eu sei mais da vida que os três juntos, mesmo com a arrogância do meu marido e com o frescor dessa menina. Elegi os dois rapazes para lavarem a louça e eles foram rindo, fumando um e falando de futebol para a cozinha. Fiquei ali com aquela garota, de pele lisa e coxa depilada, com namorado no

Para ler Nietzsche

1- Aprender a escrever o nome dele sem precisar recorrer a correção do Google; 2- Nunca mais ler alguma pílula de sabedoria, qualquer que seja. Frases desgarradas dos seus textos são burras, sempre burras; 3- Esquecer que você leu e assistiu "Quando Nietzsche chorou"; 4- Esquecer das superficiais aulas de filosofia da faculdade; 5- Perder o medo da solidão e da loucura; 6- Deixar a preguiça e lançar mão do primeiro livro, sem pular etapas, o primeiro; 7- Não se deixar impressionar pelos estudiosos, achar um caminho próprio de entendimento mesmo que seja necessário ler as mesmas palavras 14 vezes; 8 - Não comentar sobre sua descoberta com ninguém; 9- Não aplicar ao seu quotidiano o que vier com ele, é perigoso; 10- Não se apaixonar durante a imersão nietzschiana. Por homem, ideal, droga, cachorro, sitcom ou o que quer que seja.  

A Outra

Três e pouca da manhã e eu pensando no que a cartomante me dissera mais cedo:  - Ele tem outra.  Ele tem outra e daí? Eu tenho outros, com s no final. E as perguntas todas que eu havia feito para ela antes, fingindo que me importava com a saúde da família e com a carreira profissional, parecendo miss em concurso de beleza, toda àquela parafernália esotérica que comprei para parecer que estava interessada no assunto, e todos os amigos que convenci falando sobre a tal cultura milenar e o dom de vidência, enfim, toda a ladainha que me obriguei acreditar eram só para perguntar a condição sine qua non na qual os meus dias se baseiam:  -Ele tem outra? - Ele tem outra.    E o coração começou a incomodar embaixo da blusa, a lateral do meu rosto coçando, foi me dando um medo. Levantei, paguei, uma lágrima escorreu no meio do rosto e eu senti vontade de vomitar. Sim, tem alguém deitando no peito dele e ganhando os beijos quentes nas bochechas geladas pela manhã. Senti vontade de me cortar de le

Rodar, rodar

Não sei se foi a primeira vez que aquilo aconteceu mas sem dúvida é quando me recordo sendo a primeira vez. O ano era de dois mil e alguma coisa e eu estava prestando vestibular. Estava sentada em uma sala de faculdade na tijuca, única vez na minha vida que a UFF e a tijuca estiveram no mesmo lugar. Lá para o meio da manhã e metade do exame, saí daquele mundo de números, cartão de resposta, geografia e redação e fui levada para um outro lugar por alguém que até então só fazia o que eu mandava: o tal do pensamento. E se eu enlouquecesse? E se fosse agora? E se eu me levantasse agora e começasse a rodar, rodar? Todos iam olhar para mim, o fiscal da prova ia me segurar mas ninguém ia conseguir me deter, eu só ia rodar, rodar, até que iam perceber que eu enlouqueci mesmo. Veriam nos meus olhos de loucura que eu não estava ali assim de verdade, mas o meu pensamento que agora mandava no corpo todo estaria me fazendo rodar, rodar.. Em algum momento veriam que eu estaria refém dele e do meu pr

O que você fez comigo e (com a gente) com você.

É pior do que bater com o dedinho na quina do móvel. Porque começa a passar no exato momento que a gente grita o bom e alto "Putaquepariu!" e a dor, pontuda e efêmera, vira uns gemidos que se esquecem muito rápido. É pior do que ressaca. Toda ressaca vale à pena, dizia um amigo meu que foi morar em Paris. E deve valer mesmo. É compensação, um dia de alegria a mais, no dia seguinte o universo que não é bobo nem nada te cobra com juros, dor de cabeça , enjôo e sede. É pior do que comer jiló. Eu gosto de jiló. O que você tem feito comigo, meu bem, não pode ser coisa nossa. Dá para acabar com a nossa história antes de você começar com isso? É possível por fim no que nunca começou e durou tanto tempo? Sabe, isso é pior do que acordar com medo no meio da madrugada. Quando isso acontece tem sempre a tela brilhante do computador te chamando para alguma coisa, você poderia estar lá ainda, de madrugada e meu. De qualquer forma eu tenho um blog e quando a gente escreve o tempo passa

Ele, a mãe e o pai

E ele tinha dez anos e os cabelos lisos e bem aparados na testa, um cachorro com os pêlos em nós e somente uma muda do uniforme da escola. Dormia apertado no berço velho que o pai arrancara as laterais depois que o menino começou a bater nelas já grande para o espaço de bebê. Dez anos e um dente molar que caiu e estava demorando a crescer. Uma casa em que as louças estavam sempre limpas, havia cheiro de café todas as manhãs, não faltava cerveja e futebol no domingo e nem novela a noite. Juninho sabia, embora fosse novo demais para entender muitas coisas que havia alguma coisa diferente com as segundas de manhã. Quando, a mãe aparava as unhas dos pés bem rentes e usava umas folhas plásticas para depilação que enchiam o cesto de lixo. Era o único dia da semana que ela usava um perfume importado de cheiro doce/ nauseante e que se demorava no banheiro antes de levá-lo a escola O que ele não sabia direito é o que é essa instituição que chamam família, do que ela é c

o fardo do sensível e dicas para chorar

Você já desmaiou? Eu já. Desmaio por anemia, por hipoglicemia, por dor de barriga, por medo, por acordar cedo! É para perder os sentidos, é comigo mesmo! Pode até ser sinal de fraqueza (ou magreza), deve ser, por um lado. Mas eu também já fiz uma infinidade de coisas com calma (às vezes só aparente), que tem muita gente que não suporta. Já atirei uma pedra bem pesada no rosto de um cara que não valia nada, coloquei piercings em lugares doloridíssimos, ouvi e guardei os segredos mais absurdos que alguém poderia saber. Vi uma amiga ser atropelada por um ônibus enquanto resistia a um colapso sentindo o sangue todo fugindo para não sei onde. Fugi de um hospital seminua, cena de cinema que me rendeu uma boa história e, o mais dolorido, vi o corpo do meu avô, depois da passagem, sendo colocado no caixão. E você deve estar se (me) perguntando : Tá e aí? Aí nada. Não tô pedindo para você ler isso aqui, só tenho pensado sobre esse negócio que chamam sensibilidade. Por quê tem gente que sente ta

Encontro marcado

Acorda. Como, se não conseguiu dormir? Senta e esfrega os olhos, boca seca e coração batendo. Ele sempre bate, mas hoje cada batida é um suspiro. Rememorou as palavras dela: 'Saudade, me pega ali nas barcas às 18 horas.' Péssimo horário, ainda mais se tratando de uma terça-feira. Mas não podia adiar mais um minuto nem dia, pensava nela todos os dias, desde o que ele chamava de 'A Grande Briga'. Quem disse que amor não dói é porque nunca amou Maria Luísa. Acorda. Mais cinco minutos. Acorda agora? Não, mais 10 minutos, por favor. Que dificuldade acordar, enfrentar esse sol que não sei por que insiste em entrar ali no quartinho. Tanto lugar praqueles raios se esticarem, quanta praia aí pelo Rio de Janeiro, por que aqui e agora? Enquanto se arrasta até o banheiro, lembra que hoje tem algo diferente a fazer. Ah, sim, um encontro. Com Ele. Esperou tanto por esse dia que cansou de esperar. Relembra que chorava toda noite depois do que ela chama de 'Pior dia da minha v

O grande achado da internet

Comprara uma cápsula do tempo ao contrário, viera do futuro ou de outro planeta, uma pistola de laser desfragmentador. Apontado para o alvo, tudo virava nada. Desaparecia. O laser ou fosse aquilo o que fosse era transparente e aquele negócio incrível estava ali, em suas mãos e ela poderia fazer o que quisesse com ele. Seu primeiro impulso foi virá-lo para a cabeça e “sumir-se a si mesma” mas e depois? O que fariam com suas roupas? será que alguém acharia seu diário e morreria de rir das suas besteiras? Será que alguém (ELE) notaria que ela desapareceu que nem pó em nariz de viciado? Então decidiu apagar a sua vida. Chegou a casa e atirou na sua cama e naqueles lençóis que apesar de constantemente lavados insistiam em guardar o cheiro dele. Atirou nas suas roupas e só ficou com a que vestia, atirou nos diários e nos cadernos e em todos aqueles sufocantes papéis. Atirou nas fotografias, destruiu o seu passado material e ainda deu tempo de sumir com o cachorro e c

festa!!

Era uma festa antiga, à fantasia. A música era alguma coisa eletrônica sem letra e as máscaras eram capas de vinis antigos, ainda lembro de um comentário que pesquei de longe: - Um bom fim para esses discos empoeirados.... E tinha um Chico Buarque com vinte e poucos anos dançando no meio da pista mas estava usando uma saia branca. O Roberto Carlos estava sentado tentando beber cuba libre por detrás da máscara e eu vi o Pink Floyd mais lindo do mundo se aproximando de mim. O tênis Adidas das três listras azuis denunciou que era você. Eu podia ouvir você rindo daquela situação toda e a gente ficou se olhando pelos dois buraquinhos pequenos que alguém recortou nas capas antigas. Os seus olhos sorriam mais do que eu podia lembrar que conseguiriam. Não tinha muito o que se falar, quatro anos e a gente já tinha falado tudo o que existia, o permitido e o não permitido. Todos os espaços materias e em outras quinhentas dimensões e ficamos ali. Nos olhando... eu podia isolar, como um cão farejad

celular e blá blá blá

Durante algumas semanas essa urgência em te ver me incomodou seriamente. Foi vontade que não me deixava dormir e me fazia querer durar o sono da manhã para te manter mais um pouco em meu sonho. Foi nervoso gelado que fez a comida não descer garganta abaixo me levando dois dos meus preciosos poucos quilos. Foi o texto insolente com tantos erros de português que faria o Professor Pasquale franzer as sobrancelhas numa irritada expressão. Foi o semáforo vermelho que ficou para trás enquanto um guarda com sorriso maquiavélico anotava a placa do carro. E mais ainda todas as tardes de trabalho intermináveis e insolucionáveis, todos os discos do Nirvana, lenços de papel com cheirinho de maçã verde, fotografias gastas de tanto serem contempladas e mais um caminhão do Faustão de torturantes agonias.  E sabe, o que me fazia querer arrancar os fios de cabelo um a um com uma pinça era saber que esta grande questão se resolveria facilmente com um telefonema. Oito números discados em sequência no tel