Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2010

Estômago!

Nascera com um defeito congênito. Só que nenhum médico percebera até porque era defeito que exame físico não revelava. E o bebê gordinho foi crescendo assim, meio trocado. Quando sentia fome abria o berreiro e mamava até os seios da mãe murcharem. Depois dormia. Chorava quando sentia dor também, quem nasce desse jeito sente dor muito cedo e o neném vivia apavorado com as terríveis cólicas. Massagem e remedinho funcionavam e ele caía no sono de novo. O baby virou menina. E era daquele jeito. Comia quando sentia fome, e sempre sentia fome. Dormia quando estava com sono e poderia estar no sofá de casa ou no meio de um jogo de futebol no maracanã. Se estava triste escrevia. Se sentia saudade fechava os olhos e rememorava momentos bons com quem lhe faltava. Um dia ela se apaixonou. Quem nasce com o estômago comandando o corpo, se apaixona com ele. E era o estômago que ficava gelado quando ia encontrar o amado, o estômago que pulsava nervoso quando ele demonstrava qualquer desinteresse e foi

Bem que eu gostaria de

Não ter dor de dente, conhecer o oriente, me importar menos com gente. Gostaria de saber voar, não ter contas pra pagar. Ser mais alta, bonita e magra. Bem que eu gostaria de ter um leão no quintal, ser menos normal. Saber dançar como a Beyonce, ter a voz da Amy e a pouca vergonha da Lady Gaga. Ah, mas eu gostaria de ser menos humana e mais ciência exata. Leve, solta, rir de desgraça, rir de filme bobo, cult-pseudo-intelectual, rir de nada. Gostaria de morar perto do mar, ter uma criança pra olhar, um amor, melhor quatro amores, um para cada estação do ano. Bem que eu queria ser menos instinto e mais razão, mais sóbria e menos louca, menos íntima e mais éxtima. Ah, eu gostaria mesmo de ter uma mansão, um carro de um milhão, viajar no verão e viver de pensão. Bem que eu gostaria de saber rimar como Fernando Pessoa, ter uma roupa diferente para cada humor, chorar todas as noites e continuar a mesma.

A faxineira

     Naquele tempo tinha 23 anos e dividia meu tempo entre a redação do jornal, a Lourdinha e a nossa quitinete. Alugada ali na praia do Flamengo e com vista para a janela de Dona Edméia que morava em um prédio caindo aos pedaços que nos ladeava. A vista não incomodava, sentíamos a brisa que vinha da praia e naquela época era maresia fresca, não nos deixava esquecer a proximidade do mar e aquele clima zona sul que nos tomava sempre que chegávamos a janela. Dona Edméia não gostava e tratava de pegar a toalha de mesa e sacudir com força, a gente entendia e voltava para a nossa gaiola.      Conheci Lurdinha no colégio e foi amor à primeira vista. No primeiro dia do terceiro ano, colégio novo para ela e novidade para todos os rapazes, notei que ela usava uma meia branca e a outra bege clara. Pensei que só alguém que não ligasse em mudar de colégio e ares poderia errar na escolha da meia assim. Fitei-a enquanto comia um biscoito sozinha no canto do pátio e ela retribuiu. A partir dali ficam

Carta número 57

Como você está? Não poderia fazer outra pergunta mesmo esta sendo a formal para se iniciar qualquer conversa, mas, meu, é só o que eu quero saber. Quero saber se a sua boca ainda é quente pela manhã e se você ainda tem aquele gosto de praia, meio salgado morno, final de tarde. Não paro de pensar se já me esqueceu, se alguém anda dormindo no seu braço. Ontem sonhei com você. No sonho estávamos reatando e eu havia esquecido tudo, ou te perdoado, não sei... parece que quando dormimos viramos ingênuos, ou puramente bons. Deus deve ter dado um jeito de deixar a maldade de fora dos sonhos, dormindo sou leve e canhota. Foi um sonho de final de manhã, um sonho lindo e feioso como o lobo dos contos de fada. Quando sonho com você passo não só o dia, mas a semana lembrando do sonho e de você, relembrando você... amaldiçoando o tempo e a distância.. imaginando se não era uma boa hora de sair correndo e entrar num avião, mesmo sabendo que voce nao iria no aeroporto me receber.. mesmo com todo o con

O Rio (do Córtazar)

Meu conto favorito: Sim, parece que é assim, que você se foi dizendo não sei o quê, que você ia se atirar no Sena, ou coisa parecida, uma dessas frases de noite alta, misturadas de lençol e boca pastosa, quase sempre na escuridão ou com pedaços de mão ou de pé roçando o corpo de quem mal ouve, porque faz tanto tempo que mal ouço você quando diz coisas assim, isso vem do outro lado dos meus olhos fechados, do sonho que outra vez me atira para baixo. Então está bem, que me importa se você se foi, se você se afogou ou ainda caminha pelo cais olhando a água, e além disso não é verdade, porque você está aqui adormecida e respirando entrecortadamente, mas então você não tinha ido quando se foi em algum momento da noite, antes de que eu me perdesse no sonho, porque você havia ido dizendo alguma coisa, que ia se afogar no Sena, quer dizer que teve medo, renunciou e de repente está aí quase me tocando, e se mexe ondulando como se algo trabalhasse suavemente no seu sonho, como se de verdade você

Por que escrever e o que se pode ou não ser

Por que não escrever? Se não pude pagar o cinema ontem, se não pude comer sorvete depois do jantar? Papel e caneta é barato e não engorda. Se meu corpo é falho, confuso. Escreve e esqueço de algumas dores, ganho outras, é verdade, mas por que não? Já não me reconheço sem elas. Tem o amor que se foi e só se sente quando observo uma vaga vaga na garagem. tem as contas, as neuras, a angústia do não saber e aquele riso sem graça que dou com o canto da boca, por que não? E me pego sozinha, como não poderia deixar de ser, têmpora latejando porque algo deseja sair e não cabe no crânio, caixa dura e instransponível. Por que não? Algo me falta, tudo sobra. E eu só vim aqui para isso mesmo. E tem aquela que jamais serei, poderia escrevê-la, sê-la, mesmo que de mentiriha. Não, não posso. Qando pego a caneta essas outras questões pulam. Deve ser esse compromisso tácito e maldito que firmei com a verdade, quando esqueci por um momento que palavras também mentem, como eles. Sinto tanta saudade dessa

Bom dia

Estava voando. Uma casa perto do mar onde se encontravam muitos amigos, alguns que ainda não conheço e outros que não vejo há muito. Podia me locomover se fizesse movimento parecido com o que faço para nadar, mas não tinha água, nadava seco e no ar e as pessoas riam para mim sempre que me viam passar de um lado para o outro. Pipipi pipipi pipipi! Tentei voltar para o sonho, “posso ficar aqui mais um pouco?”, porém o despertador é implacável, um carrasco de plástico comprado no camelô da esquina. Pipipi pipipi e meu sonho livre ficou em algum lugar do subconsciente. Teimosa, não abro os olhos. Custo a admitir que tudo começou novamente. Não consigo manter a calmaria do sonho por muito tempo e o coração dispara enquanto um bloco de concreto cinza cai sobre o pensamento, engole todos os espaços. O bloco é composto de algumas ideias que só me deixam quando consigo pegar no sono, depois de um copo de Nescau quente e muita TV, mas ele volta assim que tomo a consciência, ah se pudesse ab

Fim.

Começar é o mais difícil, todo mundo lembra do primeiro e quando chega no último já estão cansados demais para levantar a cabeça. Como sou Viviane, começo do final. Obrigada, amigos e inimigos. Mas hoje, uma nova fase se inicia e preciso encerrar meu super blog. até logo, Vivi.