Comprara uma cápsula do tempo ao contrário, viera do futuro ou de outro planeta, uma pistola de laser desfragmentador. Apontado para o alvo, tudo virava nada. Desaparecia. O laser ou fosse aquilo o que fosse era transparente e aquele negócio incrível estava ali, em suas mãos e ela poderia fazer o que quisesse com ele. Seu primeiro impulso foi virá-lo para a cabeça e “sumir-se a si mesma” mas e depois? O que fariam com suas roupas? será que alguém acharia seu diário e morreria de rir das suas besteiras? Será que alguém (ELE) notaria que ela desapareceu que nem pó em nariz de viciado?
Então decidiu apagar a sua vida. Chegou a casa e atirou na sua cama e naqueles lençóis que apesar de constantemente lavados insistiam em guardar o cheiro dele. Atirou nas suas roupas e só ficou com a que vestia, atirou nos diários e nos cadernos e em todos aqueles sufocantes papéis. Atirou nas fotografias, destruiu o seu passado material e ainda deu tempo de sumir com o cachorro e com o computador antes que alguém chegasse. Foi tomando gosto pela coisa e quando viu estava deitada em um espaço aberto, um andar sem paredes e sem nada. Aí a mãe chegou a casa e sem entender nada foi logo perguntando que loucura era aquela, e ela não respondeu. E a muher começou a chorar e reclamar que não tinham dinheiro que não poderiam comprar tudo de novo e aí ela atirou na mãe sem querer e quando viu o que tinha feito deu um pulo e saiu correndo. E viu que seu pai chegava no carro com o avô e o irmão pequeno e pensou no que o avô pensaria quando visse que a filha sumiu e que a casa e o cachorro sumiram e resolveu atirar no carro. Ficou sem família e começou a chorar mas cada lágrima que descia era apagada em um tiro e ela pensou que assim apagaria a saudade e a tristeza.
Ficou perambulando na rua e já que havia apagado tanta coisa decidiu apagar aqueles meninos que esmolavam e o mendigo que vivia com frio na esquina 112. Apagou o pipoqueiro porque ele era velho demais para trabalhar e apagou uma senhora gorda que atravessava a rua porque ela tinha cara de chata. Apagou o motorista de um carro vermelho e pegou o carro para si e dirigiu e muito. Conheceu lugares bonitos e até algumas pessoas só que o vazio de dentro esse não dava para apagar, afinal, não dá para tornar invisível aquilo que é oco, seco. Não dá para fazer faltar a falta, entende?
E ela começou a rememorar tudo o que havia lhe acontecido e pensou que aquele achado fora uma coisa muito ruim, que poder absurdo apagar as coisas. Lembrou que fora ele que fizera achar aquele pacote, fora ele que sumiu com tudo o que ela acreditava, com a cor e a alegria do mundão fazendo com que ela encomendasse no e-bay aquela arma poderosa.
E se ela o apagasse? Se se vingasse, se apagasse a casa e o cachorro dele e a família dele e tudo o que ele gostava?
Foi no seu carro vermelho que estava cheio de batatas-fritas espalhadas pelo chão e estacionou na porta do condomínio. Apontou a arma e paf! Foi-se o porteiro e ela entrou. Sentada no quintal percebeu que a empregada descera com um balde de roupas e apagou a coitada. E quando o cachorro voltou de um passeio nem bem abanou o rabo e sumira num instante.
E foi a casa dos pais dele e aproveitou que estava todo mundo lá e mirou no teto da casa e acabou com a festa.
Correu para o trabalho dele e viu que ele estava saindo com o carro, gritou seu nome:
- A-ta-íííí-de!!
- Marina??
- Você... aqui.. depois de tudo? Está pronta? Me perdoou?
- Não, nunca.
- Eu... olha, coloca a mão aqui, sente, tá vendo? Eu descobri que é você, sempre foi... fiz tantas besteiras mas nunca, nunca parei de sentir. Eu amo você, sempre amei.. Você é a coisa que EU MAIS AMO NO MUNDO.
E aí ela deu um sorriso quase gargalhou e pimba! Deu um tiro na própria boca!