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Mostrando postagens de março, 2012

convulsão

cem ou duzentos anos milhões sei lá nem parece que vale tanto e rachadura cristal quebrado é gozado como as coisas mudam assim de um minuto para o outro casa sujeira parece que não dá tempo para nada o tempo ali se configura de outra forma você escolhe como que as coisas vão se ajeitar rapaz eu poderia te amar para sempre se você deixasse isso muda também não é culpa sua tem sido assim comigo eu entendo essa sua mania de querer coisas novas todo ano mês eu entendo você procurar por alguma moça mais rasa rasinha ficar aqui embaixo comigo sufoca dá vontade é eu sei que você é o tipo do cara que precisa de ar puxar forte e mirar o horizonte aqui no meu apartamento tem muita parede móveis tem a cristaleira com o cristal que eu quebrei agora pouco e todos os outros que estão por um fio por um fio de ar para se partirem e tem essas construções e prédios pitorescos que fingem serem bons para morar ah já se foi o tempo deles vila isabel tem sido aprisionador e quente como o nosso último en

Guilherme e Juliana

"Eu quero saber o que você não conta para ninguém", Juliana pedia. Eu, cansado dos seus jogos intelectuais, muitas vezes inventava algo que julgava interessante para satisfazer sua insaciável curiosidade. "E se eu viajasse para longe? E se eu fosse embora? E se eu morresse?". Sua verborragia contrastava com o silêncio na hora do sexo. Sempre compenetrada deixava escapar alguns gemidos miúdos, quase inaudíveis não fosse a minha insistência em puxar seu pescoço e trazê-la perto. Ela se debatia, empurrava, mas acabava cedendo. E eu enlouquecia. Aos sábados ela ficava viva. Esquecia a maquiagem, as roupas, até a depilação que nunca estava em dia. Dava umas risadas muito altas, almoçava sorvete, me olhava séria-zombeteira e começava a desfilar sua infindável enciclopédia de interrogações: " Podemos ir ao cinema esta noite? Me acha gorda? Vamos viajar no reveillón?" Hoje ela está calada. Não posso dizer que o silêncio não me é agradável. Ela cozinha, sorumbáti

Cheiros de Infância

  (texto de 2007) Hoje é meu aniversário, embora ninguém saiba. Já vivi tantos dias que esta data não tem nada de especial. Daqui a pouco desço para o refeitório, café com leite e pão com manteiga. Um passeio no jardim mais tarde, quem sabe? Posso ouvir meu velho rádio (ele completa 20 anos comigo). Só o que posso fazer é esperar o amanhã, e assim tem sido desde que cheguei aqui. A melhor e única companhia têm sido minhas lembranças. Apesar das 89 primaveras, nunca perdi o dom de não esquecer de nada. Como uma máquina que ainda não inventaram, fecho os olhos e consigo viajar no tempo. Revejo o nascimento do meu primeiro filho, volto um pouco e jogo futebol na rua, ainda moleque. avanço e fito o reflexo do meu rosto jovem, nos olhos de jabuticaba de Elvira. Ontem, algo inusitado aconteceu. Os netos de D.Amélia vieram visitá-la. Enquanto a senhora beijava as crianças, estas se esquivavam para correr pelo pátio. A menininha tropeçou e caiu aos meus pés, soltando o saquinho de pão-de-me