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Jogo da Vida


...Eu não sei se o Lucas notou  a calcinha dela e em outra ocasião eu a faria sentar igual moça de família perto do meu homem, só que passava das três e ela era muito legal para levar pito meu.O Renato arrumou o tabuleiro, cada um escolheu um carrinho de uma cor. Viramos pinos coloridos e rodamos aquela roleta umas vinte vezes cada um. No meio de um assunto esquecíamos o que havíamos tirado e tínhamos que começar tudo de novo. Renato fazia o papel do banco mas acabava por distribuir mais dinheiro do que conquistávamos, exceto para Lucas que lutava com umas promissórias adquiridas logo na primeira rodada. Acabamos o jogo quando o dia fica mais frio, entre quatro e cinco da manhã. Eu ganhei, claro, eu sei mais da vida que os três juntos, mesmo com a arrogância do meu marido e com o frescor dessa menina. Elegi os dois rapazes para lavarem a louça e eles foram rindo, fumando um e falando de futebol para a cozinha. Fiquei ali com aquela garota, de pele lisa e coxa depilada, com namorado novo (deve estar transando todo dia, aposto) arrumando o dinheiro de mentirinha, nota por nota na caixa com cheiro de guardado. Depois criamos um jogo nosso. A gente girava a roleta e quem tirasse o maior número tinha o direito de escolher uma coisa, qualquer coisa. Ela pediu para eu cantar uma música do Jorge Ben, eu pedi para ela dançar "La Cucaracha". Depois ela deitou no meu colo e me contou que não falava com o pai fazia cinco anos, porque se apaixonou por um portenho e foi morar em Buenos Aires. Ela falava aquilo com lágrimas nos olhos mas eu achei que era mentira  porque ela era muito bonita para um pai lhe virar as costas e era muito nova para se apaixonar e correr atrás de homem, muito menos um argentino de "cabelo comprido mas sem tocar os ombros, entende?". Aí ela girou a roleta, caiu no número 1 e eu pedi um beijo na boca...

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Eu tinha o que, uns dezesseis anos. Aí eu escutava uma música e achava que o mundo estava se mostrando para mim. Desezzeis anos e começando a entender o mundo. Tocando duas punhetas por dia, ouvindo Beatles, achando que rock brasil anos 80 era uma grande merda e que elas... as meninas... um mistério. Ela sabia que mexia comigo. Ela sabe que hoje, trintão de barba por fazer. ainda mexe. Com dezesseis ela pediu: Vamos fugir? Eu não quis. Porque tinha leite na geladeira e o meu cachorro só comia quando eu botava e nossa, tinha tanta menina e eu ainda estava com paciência para caralho! Eu podia sei lá, contar as folhas de grama do maracanã e ia sobrar energia. Aí o Botafogo foi piorando, as coisas na minha cabeça começaram a machucar de dentro pra fora. Ganhar dinheiro não tem sido suficiente. As meninas passaram a achar minha literatura boba. O cinema não encanta e envelhecer é quase emburrecer. Vamos fugir. Vou fugir. Vamos fugir. Ela poderia ainda queria. Vamos? Misturar tempos?...

sobre a dor

É amarelinha. Porque amarelo é a cor da inflamação, do pus? Pode ser. Não sei. Mas a minha é amarela. São pontos amarelos invisíveis que ora estão pequenos, ora estão grandes. E doem. E reverberam a sua volta. Quase falam: "Menina, você andou sendo tão ruim ultimamente". E eu pergunto: -E o Osama Bin Laden, e o George Bush, e aqueles caras que estupram covarde-coletivamente na Índia? Por que vocês não vão atrás deles? E eles respondem: - Porque você é fácil demais, boba demais, sensível e sonhadora. Porque você treme só de pensar na gente. Porque a sua barriga que não dobra quando você senta é linda. Aí eu olho para os braços, eles, que já foram a solução a curto prazo mas a longo prazo não funcionam, poderiam sangrar rapidinho. Toda menina sabe que para fazer parar de doer de um lado só doendo mais fundo do outro. Toda menina. Mulher "guenta". É maré. Vai e vem. As ressacas me fodem por muitos dias. (E o Tiago não gosta quando fala palavrão... alguém diz ...

Boa Sorte

     Sinto, Vovô, ainda sinto tanto. Sua falta, seu cheiro, sinto como se você não estivesse aqui. E de fato não está, estará? Esses cheiros etílicos, esses brancos que muito brancos, essas moças que mal saíram da faculdade e acham que podem te cuidar. Logo o senhor, tão complexo, logo o senhor que nem nos meus quase 30 anos, pude dar conta de abarcar.      Elas não sabem que já fora campeão de atletismo, que já nadara no Rio Tietê quando ainda era limpo. Não sabem que deixara uma fila de mulheres apaixonadas quando escolhera Vovó. Não sabem do seu talento para descascar camarão ou como, em quase 80 anos, fora muito pobre, quase rico e pobre de novo.      Sinto ter que vir aqui e olhar o senhor assim, esse sobe e desce de maca, esses exames que te reviram por dentro sem contar nada de novo. É pulmão, é rim, que mais? Eles não sabem que o senhor é diferente, que jamais concordaria com tudo isso. Ah, se eles soubesse...