Você já desmaiou? Eu já. Desmaio por anemia, por hipoglicemia, por dor de barriga, por medo, por acordar cedo! É para perder os sentidos, é comigo mesmo! Pode até ser sinal de fraqueza (ou magreza), deve ser, por um lado. Mas eu também já fiz uma infinidade de coisas com calma (às vezes só aparente), que tem muita gente que não suporta. Já atirei uma pedra bem pesada no rosto de um cara que não valia nada, coloquei piercings em lugares doloridíssimos, ouvi e guardei os segredos mais absurdos que alguém poderia saber. Vi uma amiga ser atropelada por um ônibus enquanto resistia a um colapso sentindo o sangue todo fugindo para não sei onde. Fugi de um hospital seminua, cena de cinema que me rendeu uma boa história e, o mais dolorido, vi o corpo do meu avô, depois da passagem, sendo colocado no caixão.
E você deve estar se (me) perguntando : Tá e aí? Aí nada. Não tô pedindo para você ler isso aqui, só tenho pensado sobre esse negócio que chamam sensibilidade. Por quê tem gente que sente tanto na pele e no estômago essas coisas que acontecem por aí enquanto outras passam pela mesma experiência ilesas? Sensibilidade que eu pensava ser elogio passa a ser defeito. É mais fácil sair com alguém que você goste sem se chacoalhar de leve nas extremidades ou, conseguir esperar o gatinho do final de semana ligar sem roer as unhas até sangrar do que ficar histérica por bem menos. E quando alguém que a gente ama muito briga então? É mais fácil almoçar feijoada e esperar tudo ficar bem do que vomitar pelas manhãs igual grávida que não tem barriga ainda.
Quem é sensível fica amigo do farmacêutico. E também dos ansiolíticos, dos remédios para enjôo (posso listar uns dez), relaxantes para todos os músculos do corpo e os famosos anti-espasmódicos, aqueles de dor de barriga mesmo, do útero aos intestinos. Andamos com medicamentos de todos os tipos na bolsa embora metade deles já sem validade. Contamos sempre nossas experiências enquanto ouvimos aquela que aconteceu com um amigo de um amigo seu. Sabemos exatamente o dia que vamos menstruar, o último dia que ''ele'' ligou, qual foi a última vez que transamos e, com mais exatidão ainda, quando conseguimos colocar um pouco de amor nisso que chamam sexo. Nossos bichos de estimação fazem aniversário, nossas roupas, nossas crises de choro e a nossa felicidade que dura sempre três dias.
E no final, por melhor que tenham sido os encontros e o filme do cinema, a night com as amigas, a lasanha da mamãe no domingo, no final mesmo a gente sempre chora. E se estiver difícil, o cara que não tinha nada e ganhou a reforma da casa no programa de TV pode ajudar, conseguiu? E o velhinho que não via a velhinha há 72 anos e se reecontraram no programa do Gugu? Lágrimas de limpar o cantinho do olho borrado de rímel com lencinho encardido! E se mesmo assim estiver difícil, coloca uma dessas sonatas apaixonadas do Beethoven, fecha os olhos e se entrega, Ném! Desce igual a galera na integração com a Linha 2, meu bem, desce tudo.
Teve uma vez, um rapaz, que eu gostei muito. Ele não era do meu time, do time dos sensíveis e um dia, me perdeu sem dor nenhuma. Eu fiquei uns bons anos lembrando do cheiro da nuca dele e de como a falta disso me fazia morrer lentamente. Quase sucumbi a distância e a saudade e me tornei o ser mais desmaiável que existe. Coisa de gente assim, que nasce sensível, entende? E eu chorei tanto ele, vomitei tanto ele, sangrei em pequenos cortes tanto ele, fiz xixi e cocô tanto ele, emagreci tanto ele, e gritei e silenciei tanto ele que teve um dia que não sobrou nada. Nem ele.