Ele tinha um sorriso de quilômetros que ia de um lado a outro do rosto. Eu beijaria cada cantinho daquele sorriso branco de gente, não branco de clareamento de laser, branco amarelo cor de dente de gente, lindo, dele. Eu beijaria o bigode, a barba, olhando perto, sem fechar os olhos e torcendo para ele não fechar também. Verde escuro e eu mais perto, quase encostando apertando o nariz com força contra. Verde escuro e a gente se apertando na Bolívia, em Cuba, tipo Colômbia ou em Corumbá. A latino-américa é nossa, meu bem, estar aqui é como estar lá também. Emaranhada nessas línguas que de longe parecem uma só, eu poderia te entender mais fácil se você não tivesse preguiça de se explicar e de colocar mais a língua também, sua, nossa. Ele está sentado do outro lado da sala, nós dois esperamos. Penso no nome dele, que nome eles têm? Jose, Pablo, Alejandro, Andres...
Penso que poderíamos sair por aí de motocicleta, de ônibus, correndo. Ele poderia me levar para esquiar e eu ia adorar levá-lo ao Pão de Açúcar e me agarrar nos braços magros dele no bondinho, morrendo de medo daquela geringonça cair e a gente morrer, sei lá. Eu iria fazer feijoada, ele ia trazer chocolate com doce-de-leite toda vez que viesse. Eu ia arrumar uma vaga para ele no time de pelada dos meus irmãos e a gente ia se ver sempre até que eu ia encontrar um brasileiro interessante e a gente ia ser amigo de internet porque ter filho e relacionamento sério com estrangeiro não dá, mamãe sempre disse, pois é.
E o sorriso extenso, largo, e eu olhando sério, encarando, é hoje, ele vem, virá, telefone, facebook, o caralho a quatro, vamos passear na praia, beber água de coco, e aí a mocinha chama:
- Mr.Smith , follow me, please.
Fecho a cara e me escondo atrás da revista. Mais um americano hijo de puta.