"Teve um dia que você foi meu. Eu sabia que era, você achava que era e eu tive muito medo disso. Nós dois sentados no tapete, com o sol do final de verão deitado do nosso lado e o silêncio das crianças brincando longe. Você me deu a mão, me encostou na parede e me abraçou. E disse que era meu, naquele dia pelo menos, eu sabia que era. As minhas pernas foram ficando fracas e eu sentei no chão para disfarçar. Você é meu, agora, mesmo com as outras moças por aí, com a minha falta de romantismo e com o meu band-aid descolando do calcanhar, você é meu. O que eu faço com você agora? Pensei que poderia deixá-lo dentro do meu armário, eu te tiraria de lá quando precisasse muito de uns dos seus versos fáceis que me faziam entender o mundo e seus tons de cinza. Depois imaginei que você não ia gostar de ficar preso no armário e não poder ver as coisas por aí, você estava tirando a minha calça com aquela sua delicadeza como se não quisesse amassar as roupas e eu estava pensando aonde ia enfiar você. Onde colocar, você era muito grande para eu deixar dentro de uma bolsa, para eu guardar no cofre do banco que nunca tive ou para deixar no porta-luvas do carro. Eu ainda lembro da calça jeans de um lado, a blusa preta do outro e das nossas roupas caindo do corpo e se amontoando pela sala. Você era meu, as roupas decoravam a sala que nunca viu um sofá, o tapete segurava o verão mais um pouco e eu não conseguia parar de pensar no que eu iria fazer com você. Que merda, você é meu! E justo agora que eu não tenho lugar para guardar ninguém. E aí eu olhei de novo, para ter certeza, para o meio das minhas pernas e você estava lá, e eu te beijei e você tinha o meu gosto e sim, você era meu. Aí eu contei até cinco, coloquei a roupa muito depressa e saí correndo de lá.
Faz mais de um ano , talvez mais de dois, eu não sei se você é de alguém agora, mas eu andei jogando muita coisa fora e tem um espaço enorme aqui, vazio vazio."