Era uma festa antiga, à fantasia. A música era alguma coisa eletrônica sem letra e as máscaras eram capas de vinis antigos, ainda lembro de um comentário que pesquei de longe:
- Um bom fim para esses discos empoeirados....
E tinha um Chico Buarque com vinte e poucos anos dançando no meio da pista mas estava usando uma saia branca. O Roberto Carlos estava sentado tentando beber cuba libre por detrás da máscara e eu vi o Pink Floyd mais lindo do mundo se aproximando de mim. O tênis Adidas das três listras azuis denunciou que era você. Eu podia ouvir você rindo daquela situação toda e a gente ficou se olhando pelos dois buraquinhos pequenos que alguém recortou nas capas antigas. Os seus olhos sorriam mais do que eu podia lembrar que conseguiriam.
Não tinha muito o que se falar, quatro anos e a gente já tinha falado tudo o que existia, o permitido e o não permitido. Todos os espaços materias e em outras quinhentas dimensões e ficamos ali. Nos olhando... eu podia isolar, como um cão farejador, todos os cheirinhos do seu corpo que tanto me enlouqueram um dia. O cheiro da sua nuca, de trás da sua orelha esquerda. O cheiro de chiclete da sua boca e o cheirinho doce dos seus ombros. Senti o cheiro com gosto de praia dos seus peitos e o talco que você usava no tênis. O seu shampoo de damasco importado e os seus dedos que ainda conservavam um pouco do meu cheiro.
Foi quando a Rita Lee com vinte anos chegou e me abraçou por trás. Eu ainda te olhava mas ele não percebeu. Me puxou e sumimos no jardim decorado com duas mil bolas coloridas. E aí o Pink Floyd levantou a máscara e eu tomei um susto:
- Passou!