Ele me olhou fundo e eu senti vertigem. Tudo rodando em volta, uma náusea boa de sentir e os dois olhos castanhos empurrando. "He's a handsome guy". I know. Eu sentia muita culpa. Me desculpa? Por nunca mais ter conseguido ficar inteira, por não te deixar seguro um minuto sequer, por trepar de olhos fechados e não dizer o que anda engasgado na garganta desde a primeira vez que me enfiei naquele seu quartinho: "Faz amor comigo?"
Eu viro de costas. Não só porque é delícia sentir a sua respiração esquentando a minha nuca mas também porque é uma forma de estar ali sem estar, entende? Ontem, antes de dormir no seu braço, fixei na parede branca que virou uma tela. Não era efeito do vinho branco fancy, eu sei, era efeito do que eu ando sendo mesmo. Eu via um menino andando de bicicleta, o cabelo liso no rosto, ele pedalando de um lado para outro atrás de uma orla linda e desabitada. Pedalava no ar. Não era bom. Mas não era bom. Ele tinha muito medo de cair. O cabelo esconderia um sorriso desafiador? Nessa onda foi que eu fui, pro branco do meu estático sonho sufocante, sempre o mesmo.
E tem o peso, que não demora. Corro para longe mesmo tendo me deixado ali inteira, nua, do avesso. Se eu tivesse a mesma facilidade para tirar as sombras como tenho para tirar a roupa...
Não entendo de arte, sempre tive preguiça de contemplar cores e formas e esperar que me toquem. Ou eu corro atrás e engulo o que vejo na frente ou é sem graça. E você veio cheio de cor. E eu tive que colocar meu rayban aviador.