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branco

Ele me olhou fundo e eu senti vertigem. Tudo rodando em volta, uma náusea boa de sentir e os dois olhos castanhos empurrando. "He's a handsome guy". I know. Eu sentia muita culpa. Me desculpa? Por nunca mais ter conseguido ficar inteira, por não te deixar seguro um minuto sequer, por trepar de olhos fechados e não dizer o que anda engasgado na garganta desde a primeira vez que me enfiei naquele seu quartinho: "Faz amor comigo?"

Eu viro de costas. Não só porque é delícia sentir a sua respiração esquentando a minha nuca mas também porque é uma forma de estar ali sem estar, entende? Ontem, antes de dormir no seu braço, fixei na parede branca que virou uma tela. Não era efeito do vinho branco fancy, eu sei, era efeito do que eu ando sendo mesmo. Eu via um menino andando de bicicleta, o cabelo liso no rosto, ele pedalando de um lado para outro atrás de uma orla linda e desabitada. Pedalava no ar. Não era bom. Mas não era bom. Ele tinha muito medo de cair. O cabelo esconderia um sorriso desafiador? Nessa onda foi que eu fui, pro branco do meu estático sonho sufocante, sempre o mesmo.

E tem o peso, que não demora. Corro para longe mesmo tendo me deixado ali inteira, nua, do avesso. Se eu tivesse a mesma facilidade para tirar as sombras como tenho para tirar a roupa...

Não entendo de arte, sempre tive preguiça de contemplar cores e formas e esperar que me toquem. Ou eu corro atrás e engulo o que vejo na frente ou é sem graça. E você veio cheio de cor. E eu tive que colocar meu rayban aviador.

Cheguei à casa. Tinha um girassol na mesa da sala e ele era lindo.

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"Teve um dia que você foi meu. Eu sabia que era, você achava que era e eu tive muito medo disso. Nós dois sentados no tapete, com o sol do final de verão deitado do nosso lado e o silêncio das crianças brincando longe. Você me deu a mão, me encostou na parede e me abraçou. E disse que era meu, naquele dia pelo menos, eu sabia que era. As minhas pernas foram ficando fracas e eu sentei no chão para disfarçar. Você é meu, agora, mesmo com as outras moças por aí, com a minha falta de romantismo e com o meu band-aid descolando do calcanhar, você é meu. O que eu faço com você agora? Pensei que poderia deixá-lo dentro do meu armário, eu te tiraria de lá quando precisasse muito de uns dos seus versos fáceis que me faziam entender o mundo e seus tons de cinza. Depois imaginei que você não ia gostar de ficar preso no armário e não poder ver as coisas por aí, você estava tirando a minha calça com aquela sua delicadeza como se não quisesse amassar as roupas e eu estava pensando aonde ia enfia...

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