Pular para o conteúdo principal

Sobre saudade e vômito

Virose é que nem saudade. Você não vê. E te fode.

O corpo estava todo dolorido, não dolorido deixa eu pegar uma xícara de chá e assistir The Big Bang Theory, dolorido deixa eu dar um chute no teu rabo. O telefone que eu quebrei quando algo quebrou aqui dentro (seriam as algemas de pelúcia?), não pode mais me distrair. Lembro dos olhos de jabuticaba dela e do cheirinho dela. Da voz, da língua grande que já foi presa, lembro de todos os nossos segredinhos. O estômago dá um duplo twist carpado. Lá vem.

E suja a roupa, o lençol, o chão. Alguém limpa meus sapatos e eu fico profundamente agradecida por isso. Eu podia trepar contigo agora, sabia? Se eu não fosse vo... mais uma vez. Durante é muito ruim, será que cheirar é assim? Mas depois até que vem uma onda legal. Como se as coisas fossem dar certo. Inevitável não lembrar dela. Dos mil beijinhos, dos braços magros. "Você agora usa soutien, é?". A gente ficou deitada. Todo o meu amor não me completa, eu preciso de você também. Eu preciso que você seja feliz, menina.

O elevador abriu, o Adonai saiu correndo e eu, que estava mastigando o ar de ansiedade, dá para olhar antes dos olhos? Eu, que estava com o coração aos pulos, eu, que lido tão mal com a falta, eu vi. Quase do meu tamanho, os olhinhos rindo. Os pés que quase não tocavam o chão. Desde quando você aprendeu a flutuar? Um abraço apertado. Eu te reconheço, te reconheceria mesmo que passassem cem anos. Há lugares intocados, nossa história que é viva e não morre por conta do hoje. Não há capricho, ciúme ou egoísmo que acabe com o que a gente viveu. Não existe distância que apague, esqueça ou "deixe para lá", todos os nossos momentos juntas.

A última vez foi de leve, e de levinho me levou. O rosto amistoso do médico de sotaque engraçado foi ficando longe. Uma mão forte me segurava, uma voz chamava. Eu estava num desenho de mar. Sabe quando as crianças fazem aquelas ondinhas azuis? Eu fui navegando como se estivesse num navio mas era só o meu corpo. Uma baleia fez shuuuuu e ela estava lá. Me deu um sorriso. Disse para eu esperar mais um pouquinho, que a virose estava indo embora. E que ela, a boneca, sem demorar tanto, estaria de volta.

Postagens mais visitadas deste blog

Baby, I'm so alone. Vamos pra Babylon.

Eu tinha o que, uns dezesseis anos. Aí eu escutava uma música e achava que o mundo estava se mostrando para mim. Desezzeis anos e começando a entender o mundo. Tocando duas punhetas por dia, ouvindo Beatles, achando que rock brasil anos 80 era uma grande merda e que elas... as meninas... um mistério. Ela sabia que mexia comigo. Ela sabe que hoje, trintão de barba por fazer. ainda mexe. Com dezesseis ela pediu: Vamos fugir? Eu não quis. Porque tinha leite na geladeira e o meu cachorro só comia quando eu botava e nossa, tinha tanta menina e eu ainda estava com paciência para caralho! Eu podia sei lá, contar as folhas de grama do maracanã e ia sobrar energia. Aí o Botafogo foi piorando, as coisas na minha cabeça começaram a machucar de dentro pra fora. Ganhar dinheiro não tem sido suficiente. As meninas passaram a achar minha literatura boba. O cinema não encanta e envelhecer é quase emburrecer. Vamos fugir. Vou fugir. Vamos fugir. Ela poderia ainda queria. Vamos? Misturar tempos?

O fim do mundo

       Eu sabia. E ninguém mais sabia. Dia e hora. E porque se sabe, ah, isso eu nunca soube. Tem coisa que é assim, aparece do nada igual notícia boa. Acordei e veio. Como quem vai se acostumando com a luz depois de muito tempo no escuro. Pupilas retraídas e claro. Não posso negar, sim, passou da hora, mas é aquele tipo de coisa que parece que nunca vai. Foi. Então é isso mesmo?         A saudade rasgando. Na boca, no peito, na boca do estômago. Rasga de deixar fiapo. Eu senti, doeu. Sentei, escrevi. Você não veio na sexta. Era só mais uma sexta e eu ainda lembrava aquelas outras que a gente chegava a casa e se jogava na cama, meio sem jeito até se ajeitar. O quartinho, ele virava mais um e éramos três quando estávamos lá, configurava tempo-espaço de outra forma. Às vezes se apertava até a gente entrar um no outro, por outras se dilatava e eu te perdia de vista. Tinha os dias que o tempo não passava, a gente nem sentia fome, e os tantos outros que o relógio nos empurrava para fo

celular e blá blá blá

Durante algumas semanas essa urgência em te ver me incomodou seriamente. Foi vontade que não me deixava dormir e me fazia querer durar o sono da manhã para te manter mais um pouco em meu sonho. Foi nervoso gelado que fez a comida não descer garganta abaixo me levando dois dos meus preciosos poucos quilos. Foi o texto insolente com tantos erros de português que faria o Professor Pasquale franzer as sobrancelhas numa irritada expressão. Foi o semáforo vermelho que ficou para trás enquanto um guarda com sorriso maquiavélico anotava a placa do carro. E mais ainda todas as tardes de trabalho intermináveis e insolucionáveis, todos os discos do Nirvana, lenços de papel com cheirinho de maçã verde, fotografias gastas de tanto serem contempladas e mais um caminhão do Faustão de torturantes agonias.  E sabe, o que me fazia querer arrancar os fios de cabelo um a um com uma pinça era saber que esta grande questão se resolveria facilmente com um telefonema. Oito números discados em sequência no tel