Na primeira vez ela estava em pé em cima da cama. Alheia aos fios que a cercavam ou a "acercavam", vai saber. Ela chamava quem passasse na sua frente. Me assustei com aquele jeitão, parecia que me conhecia. Ela me ultrapassava, como se soubesse o que eu iria dizer. Virava as páginas antes que eu terminasse de ler, devorava as figuras com os olhos. "É que eu não tenho muito tempo". Eu não sabia.
Juliana tinha os dois olhos pretinhos pretinhos. Dificilmente ria. Sempre dava ordens, queria saber tudo, tudo o que podia saber dali, daquele pedacinho, que ela dominava como ninguém. As respostas eram sempre diretas e curtas. Gosta disso? Não. Gosta daquilo? Não. Acha o Tiago bonito? Não. Quer ser minha mamãe? Como? Vai fazer mamá pra mim? Mas eu não sei fazer!
Quando os nossos livros acabavam, antes mesmo da última página ela pedia "outro", mais para não perder a companhia do que pela leitura, é que ela não tem tempo, ela não sabe mas sente. Eu ali já sabia mas não sentia. Somos amigas?
Queria saber tudo. Passamos a dividir coisinhas, na verdade, sempre foi muito mais importante para mim do que eu para ela. Ela sabia que não deveria se apegar. Passei a falar dela durante a semana, imaginava joguinhos para diverti-la, buscava livros com imagens divertidas. Ela gostava de ver, eu gostava de vê-la ver. Eu gostava dela.
Nos últimos dias ela estava mais quietinha, menos altiva. Mesmo assim me quis perto, mesmo assim quis a companhia. Enfim me apresentei Meu nome é Vivi. "Vivi, não vai embora." Não vou. A respiração fraquinha, combinamos de conversar depois. Vai dar tempo? Um abraço de longe, mandei beijos que ela guardou no coração, jogou outros que agarrei no ar e guardei comigo. Um sorriso, um dos únicos sorrisos, e enfim virou a criança que era, que só se revelava quando falava baixinho "mamãe". A mãe se fingia durona mas seus olhos nunca seriam duros. É que mãe é macio demais.
Cheguei pensando nela, como sempre. A cama estava vazia. Vazia das cores, da voz grossa e mais ainda, vazia do sofrer que só se esquecia quando se lembrava criança. Não tinha mais rir do seu mal humor, rir para arrancar sorriso, rir para não chorar. Não tinha mais Juliana. Não tinha. Mais Juliana. Mais Juliana na praia, no parque, onde ela quiser ir. Mais Juliana brincando com cachorro, comendo sorvete. Mais Juliana dançando, pulando. Mais Juliana aonde o pensamento a levar. Livre. Mais Juliana aqui dentro. Pra sempre.
Juliana tinha os dois olhos pretinhos pretinhos. Dificilmente ria. Sempre dava ordens, queria saber tudo, tudo o que podia saber dali, daquele pedacinho, que ela dominava como ninguém. As respostas eram sempre diretas e curtas. Gosta disso? Não. Gosta daquilo? Não. Acha o Tiago bonito? Não. Quer ser minha mamãe? Como? Vai fazer mamá pra mim? Mas eu não sei fazer!
Quando os nossos livros acabavam, antes mesmo da última página ela pedia "outro", mais para não perder a companhia do que pela leitura, é que ela não tem tempo, ela não sabe mas sente. Eu ali já sabia mas não sentia. Somos amigas?
Queria saber tudo. Passamos a dividir coisinhas, na verdade, sempre foi muito mais importante para mim do que eu para ela. Ela sabia que não deveria se apegar. Passei a falar dela durante a semana, imaginava joguinhos para diverti-la, buscava livros com imagens divertidas. Ela gostava de ver, eu gostava de vê-la ver. Eu gostava dela.
Nos últimos dias ela estava mais quietinha, menos altiva. Mesmo assim me quis perto, mesmo assim quis a companhia. Enfim me apresentei Meu nome é Vivi. "Vivi, não vai embora." Não vou. A respiração fraquinha, combinamos de conversar depois. Vai dar tempo? Um abraço de longe, mandei beijos que ela guardou no coração, jogou outros que agarrei no ar e guardei comigo. Um sorriso, um dos únicos sorrisos, e enfim virou a criança que era, que só se revelava quando falava baixinho "mamãe". A mãe se fingia durona mas seus olhos nunca seriam duros. É que mãe é macio demais.
Cheguei pensando nela, como sempre. A cama estava vazia. Vazia das cores, da voz grossa e mais ainda, vazia do sofrer que só se esquecia quando se lembrava criança. Não tinha mais rir do seu mal humor, rir para arrancar sorriso, rir para não chorar. Não tinha mais Juliana. Não tinha. Mais Juliana. Mais Juliana na praia, no parque, onde ela quiser ir. Mais Juliana brincando com cachorro, comendo sorvete. Mais Juliana dançando, pulando. Mais Juliana aonde o pensamento a levar. Livre. Mais Juliana aqui dentro. Pra sempre.