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galeria condor

havia uma força diferente de tudo até então visto. veja bem, não estamos falando de peso de academia, de conta para pagar, de festa friday night. estamos falando daquilo que a gente não sabe o nome mas sabe bem o que é, do que se sente quando a literatura acaba, a cama está dolorosamente desconfortável e ainda falta muito para amanhecer. 

havia um quadro, um quadro igual, um quadro já visto. sentamos. ela perguntou como havia sido a semana e reparei que o brinco era diferente embora não parecesse novo. o cheiro era bom e me dava vontade de dormir, de escrever, tudo menos falar. 

fale, viviane, arranque a sua língua da boca e põe pra fora. sem língua, sem palavras, pode ser só som. 

eu não consigo esquecer um monte de coisa.

vamos começar a ser gente grande?

gente grande não esquece, gente grande é ser feliz mesmo assim.

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Final de verão tem dessas coisas

"Teve um dia que você foi meu. Eu sabia que era, você achava que era e eu tive muito medo disso. Nós dois sentados no tapete, com o sol do final de verão deitado do nosso lado e o silêncio das crianças brincando longe. Você me deu a mão, me encostou na parede e me abraçou. E disse que era meu, naquele dia pelo menos, eu sabia que era. As minhas pernas foram ficando fracas e eu sentei no chão para disfarçar. Você é meu, agora, mesmo com as outras moças por aí, com a minha falta de romantismo e com o meu band-aid descolando do calcanhar, você é meu. O que eu faço com você agora? Pensei que poderia deixá-lo dentro do meu armário, eu te tiraria de lá quando precisasse muito de uns dos seus versos fáceis que me faziam entender o mundo e seus tons de cinza. Depois imaginei que você não ia gostar de ficar preso no armário e não poder ver as coisas por aí, você estava tirando a minha calça com aquela sua delicadeza como se não quisesse amassar as roupas e eu estava pensando aonde ia enfia...

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